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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Nova York, eu te amo!

Um bom filme é aquele que surpreende quando não se espera absolutamente nada dele (ou talvez surpreenda justamente porque não se espera nada dele - com a vida não é assim?!) O certo é que esses são os melhores, o que escolhemos porque é o que está começando naquele momento, pelo título somente, ou porque Bradley Cooper é um gato e Tomates Verdes Fritos ficou na memória...

É aquele em que você se vê na pele dos personagens, que te arranca suspiros imaginando como você se encaixaria perfeitamente naquela cena, que faz uma lágrima rolar, que te toca a alma. Principalmente, é aquele que te faz pensar sobre a própria vida e o que você está fazendo com ela!

Não precisa ser um filme cabeça, cinema é pra relaxar, não pra esquentar mais o coco, que para isso já basta o dia-a-dia. E no final você sai da sala um pouco mais leve, mais animada, porque a história te acende, te dá uma dose extra de motivação pra reinventar a sua própria história. Esse é um bom filme.

E Nova York, eu te amo! é esse tipo de filme, que convence sem ser pretencioso, feito de pequenas histórias inacabadas que te atiçam a imaginação, que te deixam com um gosto de quero mais na boca. Principalmente porque você tem certeza que tudo aquilo pode ser real, que de fato é real para alguém em algum lugar do mundo, e isso é muito bom! Faz você perceber que a sua realidade também pode ser mais colorida, que um jantar com seu marido que não sai do celular pode se transformar em algo muito agradável se você souber fazer a sua parte, que muitas vezes não temos oportunidade de concluir as coisas e por isso não é bom adiar pequenos prazeres e o que te faz feliz, que aceitar a limitção dos outros valorizando verdadeiramente o interior das pessoas pode te trazer surpresas agradáveis, que se permitir viver uma paixão sem culpa é como provar o lado proibido da vida. Mas quem te proibe??

domingo, 20 de dezembro de 2009

Pequenos grandes prazeres

Duas bolas, por favor! (Danuza Leão)

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai. Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo.
Um dia. Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK?Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . . .

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ele não está tão a fim de você

Faz tempo que não vejo uma comédia romântica tão verdadeira, abordando tópicos críticos em um relacionamento de uma maneira tão leve e bem-humorada, como querer casar ou não querer, infidelidade, João gosta de Maria que gosta de José que gosta de Joana, a eterna angústia que vem depois que saímos com alguém pela primeira vez, todas as burradas e maluquices que somos capazes de fazer quando nos achamos "apaixonadas", o peso da tecnologia que nos priva cada vez mais de encontros reais e de nos sentirmos confortáveis em nossa própria pele... Enfim, adorei.

Me vi em muitos personagens em muitas épocas da minha vida e percebi que estamos em constante mudança. Cada pessoa que passa na nossa vida deixa um pouco de si e leva um pouco de nós (já dizia alguém), e é verdade. Nunca saímos de um relacionamento igual que entramos. Porque amadurecer é errar e só podemos errar se nos permitimos viver. Assim aprendemos. Muito mais com nossos erros que com nossos acertos.

E na verdade, qual a importância real de se ter alguém do nosso lado? No fundo tudo o que teremos é aquilo de "não sou feliz mas tenho marido"? Qual o verdadeiro sentido da felicidade? Ao responder essa pergunta, vemos que da única pessoa que depende nossa felicidade é de nós mesmas. E ainda somos capazes de criar um ambiente propício para essa felicidade, cuidando da nossa casa, de nossos filhos, de quem amamos, e de nós mesmas. Porque não tem nada mais gostoso e saudável que cuidar da gente!! E assim vamos vivendo, caminhando, tropeçando, mas sempre em frente. Sem perder a esperança.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Capítulo "1 ano e 7 meses", tópico "A Mamãe"

Hoje posso dizer, como mulher, que não existe nada mais frágil e vulnerável que uma mãe solteira. Ver-se ali, com aquela criaturinha em braços, olhar em volta e não ter ninguém ao lado, nenhum homem que a ajude e ampare, é como ter uma tempestade de neve no estômago. Você fica com medo, esquece completamente toda a força da mulher que existe dentro de você (na verdade, você nem se lembra que é uma mulher!) e qualquer um que se aproxime com uma cara amistosa e disposição pra te ajudar com o rebento, pronto! Você acha que está apaixonada e que encontrou o homem da sua vida. Você se entrega, se rende, e pensa que se não tiver mais aquela pessoa ali ao lado, não vai conseguir. Mas aquela pessoa nem sempre é o que você espera de um homem, nem sempre está disposto a te dar o que você precisa ou a cuidar realmente de você. Só que dadas as circunstâncias, você aceita qualquer coisa, sem perceber que qualquer coisa é muito pouco, muito menos do que você merece. Você se transforma em uma mendiga de sentimentos, recebendo cada migalha como se fosse um banquete, e se acostuma a viver faminta.


Acho que isso acontece porque nessa hora fala mais alto a Mãe que a Mulher. E a Mãe é aquela parte de você que faz qualquer coisa e aceita qualquer situação em benefício da criança. A criança vem em primeiro lugar e você se anula completamente por isso. Hoje eu vejo que todos os problemas que tive nos últimos quatro meses surgiram à raiz disso. Porque nenhuma mulher consegue se anular pra sempre.

É possível arrastar uma situação complicada durante algum tempo, seja o homem que você tem ao lado o pai da criança ou não. Mas não tem como isso se prolongar, porque chega uma hora em que você já está completamente sem identidade, já se entregou e está sendo levada pela maré. O problema é que se você não nadar, você se afoga, e existe uma pessoinha que depende de você! Mais uma vez, aquela criatura te salva, você reúne como pode as forças que achava que não tinha mais, sai da situação, machucada até os ossos, com a alma em frangalhos, mas viva! Você e seu bebê. Como sempre foi, como sempre vai ser.

É um erro achar que um filho vai tirar sua identidade de Mulher. Um filho te dá uma nova identidade, o de Mãe, mas a Mulher vai continuar existindo e não pode ser negligenciada. Não é porque você agora é Mãe, que deixou de ser Mulher. Pelo contrário. Só quando você consegue incorporar e aceitar essas duas identidades como complementarias, é que você pode finalmente estar em paz. Em paz consigo mesmo, com a vida que se desdobra à sua frente com tantas possibilidades, com essa nova identidade que lhe foi ofertada como uma dádiva dos Céus. E quando a Mulher existe, a Mãe desempenha melhor seu papel, porque a pessoa se ama como um todo. E aí tudo pode acontecer! Tudo fica mais claro, o mundo parece mais colorido e você tem a garra e a coragem de seguir em frente. Você se sente forte pra criar seu filho, pra educá-lo, e passa a se sentir confortável com estar solteira, porque agora a escolha é sua. Você se torna mais exigente porque sabe que pode. E você se sente tão forte assim porque se ama e se cuida. Simplesmente porque você se permite ser Mulher.

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Mais do que nunca percebo que a vida se desdobra em ciclos, ora estamos bem, ora estamos mal, ora lá em cima, ora lá embaixo... Mas nunca permanentemente no mesmo lugar. Ainda bem. Ainda bem que sou capaz de aprender com meus erros (eventualmente), que sou capaz de mudar de opinião e de mudar de rumo, que caio e me levanto, que sou capaz de sorrir e de chorar. Porque tudo isso é viver e tudo isso sou eu. Se faltasse algo, não seria eu. E ainda bem que não falta!

Mais difícil que recomeçar é permanecer estagnado e não viver...

sábado, 28 de novembro de 2009

E a "Introdução" era assim...

Um dia algumas frases começaram a martelar minha cabeça e pouco depois percebi que já tinha um parágrafo inteiro. Só pude começar a escrever algumas semanas depois, quando grande parte da idéia original já tinha se perdido.

Mas restou a vontade de compartilhar experiências e emoções, boas e ruins, com quem já passou pelo mesmo ou que ainda pode vir a passar. Porque não é fácil estar sozinha, e ainda que seja necessária a vivência das coisas para o crescimento pessoal, o simples fato de saber que você não é a única e que sua situação pode não ser uma das piores, já faz com que você adquira uma dose extra de ânimo, o que é muito importante quando seus hormônios estão prestes a te levar à loucura.

Claro que nem tudo é culpa dos hormônios e temos que ser justas na hora de dar às coisas a importância que elas realmente têm. Tem mulheres que usam isso como desculpa para tudo, para fazer o marido de gato e sapato ou para receber atenção extra das pessoas e tirar o corpo fora (ainda que isso seja literalmente impossível nesse caso...). Eu acho isso errado. Creio que nós mulheres estamos dotadas de uma força vital incrível que desconhecemos quase por completo, e que vem à tona em momentos difíceis, como esse. Porque uma gravidez, por melhor que seja, sempre traz consigo mudanças radicais: em você e nesse novo ser que antes não existia (no plano físico ao menos). E é muita responsabilidade trazer ao mundo uma alma nova (ou antiga, segundo se veja). Não podemos e não devemos ser levianas nesse sentido nem usar as pessoas que estão à nossa volta para fugir de nossas obrigações. Toda a ajuda é bem-vinda, sempre, mas o trabalho maior é nosso e devemos ser conscientes disso em todo momento.

Espero que minhas palavras tragam conforto e inspiração, porque é sempre bom compartilhar experiências. Talvez possam tocar o coração de alguns, ou de muitos, e então vem o sentimento reconfortante de que você ajudou alguém!


Setembro, 2008.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Árvore do Papai Noel de Natal

Dani nos fez uma surpresa esse fim de semana: fomos comprar nossa árvore de Natal! Como costumo ficar meio deprê nessa época do ano, a verdade é que não ligo muito para essas coisas. A verdade é que ultimamente tenho ligado muito pouco para muitas coisas. Mas as crianças parecem se encantar com essa atmosfera de sonho que cerca o final de cada ano e com o pequeno não foi diferente: já sabe que Papai Noel traz presentes (mas só se ele se comportar e obedecer a mamãe), que irá visitá-lo na casa do vovô e que existe uma árvore muito linda que pode ser encontrada por todas partes e que ele batizou de "árvore do Papai Noel de Natal".

Ainda na loja ele se encantou com umas bolas decoradas com lantejoulas, e eu realmente tive certa dificuldade de imaginar onde poderia colocar aquilo. Depois de algum tempo acabamos por escolher presentinhos coloridos, duas caixas com enfeites sortidos, bolas douradas e cabelinhos prateados, para simular uma neve que não conhecemos nessa época, e nem em nenhuma outra, porque aqui não neva. Mas Natal tem que ter neve, então só nos resta os cabelinhos.

Montar a árvore foi um acontecimento! Ele queria abrir os presentinhos para ver o que tinha dentro, adorou as bengalinhas brancas com listrinhas vermelhas, os sinos, as bolas, e claro, os Papais Noel em miniatura! Ia logo pegando a estrela, mas dissemos a ele que aquela era para o final. E a cada coisa que colocava na árvore, olhava pra gente e repetia "para o final, é, é?" O momento mais marcante foi quando terminamos de pendurar todos os enfeites, ele deu uma volta na árvore e exclamou encantado, sem tirar os olhos dela: "Mamãe, tá linda!" Foi tão natural, tão espontâneo... Foi o "linda" mais lindo que ouvi!

No dia seguinte de manhã queria se despedir da árvore e dos Papais Noel com beijos e abraços! E cada vez que chega em casa, parece que é a primeira vez que a vê. Na portaria do prédio tem um Papai Noel gigante inflável e outra árvore, e ele sempre pára para olhar quando passamos por ali. É muito bom retomar a magia do Natal pelos olhos do meu filho. Me encanto com seu encantamento e percebo que a felicidade está sim nas pequenas coisas, e que basta um olhar diferente sobre as coisas de sempre para transformar o que é comum em algo especial. Que aquece o coração. Que tem gosto de volta pra casa. Que reflete o prazer de viver.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Revolução da alma

Meus achados pela net...
Aristóteles, filósofo grego, escreveu este texto no ano 360 A.C.

"Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue sua alegria, sua paz, sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja.

A razão da sua vida é você mesmo. A tua paz interior é a tua meta de vida, quando sentires um vazio na alma, quando acreditares que ainda está faltando algo, mesmo tendo tudo, remete teu pensamento para os teus desejos mais íntimos e busque a divindade que existe em você. Pare de colocar sua felicidade cada dia mais distante de você.

Não coloque objetivo longe demais de suas mãos, abrace os que estão ao seu alcance hoje. Se andas desesperado por problemas financeiros, amorosos ou de relacionamentos familiares, busca em teu interior a resposta para acalmar-te, você é reflexo do que pensas diariamente. Pare de pensar mal de você mesmo(a), e seja seu melhor amigo(a) sempre.

Sorrir significa aprovar, aceitar, felicitar. Então abra um sorriso para aprovar o mundo que te quer oferecer o melhor.

Com um sorriso no rosto as pessoas terão as melhores impressões de você, e você estará afirmando para você mesmo que está "pronto"para ser feliz. Trabalhe, trabalhe muito a seu favor.

Pare de esperar a felicidade sem esforços.
Pare de exigir das pessoas aquilo que nem você conquistou ainda.
Critique menos, trabalhe mais.
E, não se esqueça nunca de agradecer.
Agradeça tudo que está em sua vida nesse momento, inclusive a dor.
Nossa compreensão do universo ainda é muito pequena para julgar o que quer que seja na nossa vida.
A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las."

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aprendendo com os filhos

Tem gente que acredita que criança, além de obedecer aos pais, não tem nada mais a fazer. Vão aprendendo com o entorno, com os adultos de seu convívio, e a partir daí vão formando sua personalidade e seu caráter. Eu não estou tão segura disso. Porque existem coisas que não se ensinam. Há algum tempo eu conversava com um amigo sobre a índole das crianças. Isso depende dos pais? Da escola? Dos lugares que frequentam? Como explicar o caso de gêmeos, que vivem no mesmo ambiente, estão submetidos aos mesmos estímulos, e ainda assim são tão diferentes?

Antes de ser mãe, eu me perguntava se seria um bom exemplo, se saberia educar, se conseguiria fazer meu trabalho direitinho para que meu filho fosse uma boa pessoa. Hoje posso afirmar que meu trabalho mal começou, mas tenho certeza de que meu filho é uma boa pessoa. E que não sou só eu que represento um exemplo para ele, ele é um exemplo para mim.

Outro dia, naquele casamento que fomos, havia um primo do noivo, de não mais de cinco anos, brincando de carrinho com outros meninos. Os olhinhos do meu amor brilharam, mas eu consegui distraí-lo e ele acobou indo ficar com o vovô. Depois de um tempo vi que finalmente ele tinha conseguido colocar as mãozinhas em um carrinho, mas brincava com outra prima, essa de sua idade. Daí fiquei lá com eles, depois tiramos fotos e em determinado momento, quando aquele menino viu seu brinquedo na mão da minha criatura, foi ali e simplesmente arrancou o carrinho dele. Deixou o brinquedo em cima de uma mesa e saiu correndo com os outros amigos, mas não sem antes dizer uns quantos desaforos para o meu pequeno, que começou a chorar desconsolado, aqueles lagrimões rolando pelo seu rosto, os olhos vermelhos. Sentida, me abaixei para conversar com ele, e quase sussurrando em seu ouvido lhe pedi desculpas por não ter levado nenhum de seus carrinhos para a festa, que seus brinquedos estavam em casa esperando por ele e disse para que não se importasse, que agora ele iria dançar com a mamãe e que isso era bem mais divertido que brincar de carrinho. Eu não acreditava muito nas minhas palavras, mas ele pareceu concordar, assim que sequei suas lágrimas e fomos andando para a pista de dança de mãos dadas.

No meio do caminho ele viu um outro carrinho embaixo de uma cadeira e se deteve. Pegou o brinquedo e saiu disparado na direção contrária à que íamos, procurou o menino que tinha acabado de ser terrivelmente grosseiro com ele e com um sorriso nos lábios lhe devolveu o brinquedo. Eu chegava justo nesse momento e pude ver o olhar raivoso do menino, que mais uma vez tomou o brinquedo de suas mãos, e continuou a dizer grosserias para o meu rapazinho. Mas esse, magistralmente, já tinha dado meiaa-volta e ainda sorrindo, deixou o menino pra trás simplesmente falando sozinho! Estendeu a mão para uma mamãe atônita que o observava e juntos fomos dançar. E quando estava já no meu colo na pista de dança, depois de ter digerido a situação, lhe parabenizei por seu comportamento, lhe disse que era um menino muito bom e que a mamãe o amava muito.

Depois daquilo fiquei pensando em muitas coisas. Um simples gesto do meu filho me fez reavaliar meu comportamento, já que perdi essa inocência há muito tempo. Pude ver aquele sorriso de satisfação em seu rosto depois de ter devolvido o outro carrinho ao menino. Pude perceber que apesar de ter ficado magoado porque o outro lhe privou de um brinquedo simplesmente porque sim, ele fez o que devia ser feito. E ainda, largou o menino lá plantado com suas palavras de arrogância, sem se deixar abater.

O que eu teria feito? Ao ver o brinquedo embaixo da cadeira, teria passado direto. O menino foi estúpido comigo, não merece minha consideração. Não é da minha conta. Tomara que nunca encontre o brinquedo. Bem-feito.

Muitas vezes não fazer nada, ou não fazer o que deve ser feito, também é uma forma de revidar uma agressão. Chegamos ao ponto de ir contra a nossa natureza, conseguimos agir de maneira contrária à que pensamos só para não dar o braço a torcer, parecer fracos ou submissos. E ao fazer isso, não é o outro que perde, mas nós mesmos. Em algum momento de nossa jornada as pancadas começaram a ficar mais pesadas e o escudo criado para nos proteger da dor acabou por nos privar da vida em si. E o medo de sofrer de novo nos paralizou até nas boas ações.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Picatu

A simplicidade das crianças é algo que sempre vai me comover. Quando exatamente deixamos de acreditar nas coisas simples e belas da vida, de fato as mais importantes? Talvez tenha sido depois daquela milésima decepção que nos fez ver que o mundo não é cor-de-rosa. Mas ainda assim existem as nuances, e aconteça o que acontecer, sempre devemos agradecer.

Quantas vezes paramos pra agradecer o sol quentinho que entra pela janela de manhã cedo, mesmo que seja segunda-feira? Ou a chuva que cai fininha no rosto provocando um arrepio de frio? Ou até mesmo o sinal fechado que nos atrasa alguns minutos, mas que nos permite ouvir um pouco mais daquela música tão bonita que está tocando no rádio antes de que entremos no túnel? Eu não sei vocês, mas eu agradeço todas as noites as coisas maravilhosas que me aconteceram durante o dia, e até as ruins, porque são essas que me permitem nesse momento refletir e repensar o rumo que estou dando à minha vida, o que eu realmente quero para mim e para os meus. E claro, tento passar para o meu pequeno os valores que me parecem de maior valor. Todas as noites rezamos para o Papai do Céu com as mãozinhas juntas, ainda que ele diga "Não, mimir...". Daí eu rezo sozinha no ouvido dele, ele reclama um pouco, mas sempre acaba participando, porque nossas preces são assim, fluidas, fresquinhas. E são desse jeito:

"Papai do Céu, obrigado pelo dia de hoje,
pelos meus amiguinhos e minhas professoras (essa parte é livre, agradecemos pelos acontecimentos do dia, e quando me lembro digo também "Prometo ser um bom menino e obedecer a mamãe").
Cuida de mim e de todo mundo que eu amo.
Que assim seja."

E ele percebe que as palavras mudam, começou a dizer "mamãe" depois dos amiguinhos e das professoras (coisa de mãe, a gente sempre acaba se excluindo), até que ontem resolveu agradecer por todo o seu pequeno mundo numa prece quase sem fim, mas que me tocou a alma. Depois que já havíamos acabado, ele ainda deitado falou "Picatu vovô, picatu vovó... Dani também" Achei lindo e concordei, afagando seus cabelos. Passados uns segundos ele levantou a cabeça e disse "Mamãe, picatu cama" ao que respondi comovida "Muito bem filho, agradece ao Papai do Céu pela sua caminha quentinha" E um pouco mais tarde, voltou a levantar a cabeça "Picatu Ênio e Beto, picatu nhanha (Homem-Aranha), picatu girafa" Rindo lhe disse "Filho, acho que Papai do Céu já te ouviu e está muito feliz, agora deita e fecha os olhinhos para dormir", mas ele continuou "Picatu ShekViona (Shrek e Fiona), picatu Manu (o "bibin" Happy Feet), picatu moçu (que o atendeu quando ele chamou para comprar uma sandália para a escola)" E não descansou até incluir em nossa prece tudo aquilo que era importante pra ele.

Não sei o que fiz para merecer uma criatura tão linda ao meu lado e espero não decepcioná-lo jamais. Mas a verdade é que é ele que me surpreende a cada dia com seus atos, seu caráter e sua moral. Porque isso é dele, por mais que eu me considere uma boa mãe e tente mantê-lo sempre no caminho do bem.

Obrigada Papai do Céu, por esse presente divino.
Não me cansarei de agradecer.
Todos e cada um dos dias da minha vida.
Minha vida com ele.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mamãe em forma (ou fora dela!!)

Trabalhar durante o dia e ficar com o pequeno em casa à noite não me deixa fazer atividade física alguma, a não ser pendurar roupa, varrer a casa e fazer abdominais no chão do quarto quando a disposição permite. Ou seja, há mais de dois anos que não entro em uma academia (minto, cheguei a fazer Curves entre o trabalho e a creche, mas durou menos de quatro meses...) Queria mesmo era nadar, adoro água, e tem uma piscina deliciosa no clube aqui do lado de casa que me dá água na boca cada vez que chego na varanda. Mas enquanto a agenda não permite, me contento com uma folhinha de alface e um queijo magro entre uma pizza e outra.

Duro mesmo é ver seu filho de dois (dois!!!) anos se colocar na pontinha dos pés dentro do elevador para tocar com os dedinhos a sua barriga:
"Mamãe, olha!"
Você abre os braços achando que ele gostou da estampa do vestido. Doce ilusão!
"O quê, filho?"
"Neném!"
Você fica séria, olha atônita o namorado, volta a olhar para a criança e pergunta:
"Onde?"
E sorrindo aquela coisinha sapeca te responde:
"Na barriga da mamãe!"

Senta e chora. E depois cai na gargalhada! Porque rir da desgraça alheia não tem graça, o bom mesmo é rir da nossa!!

domingo, 18 de outubro de 2009

Frase do dia

Ontem, no casamento do Rapha e da Sama, em uma cerimônia emocionante:
"Um filho é um pedacinho do céu que cai perto da gente."

sábado, 17 de outubro de 2009

Compartilhar

Uma das coisas mais tristes de ser mãe solteira é não ter com quem compartilhar as pequenas coisas. Aquele primeiro risinho do bebê, o sorriso, as carinhas engraçadas e até um jato de cocô molinho que sai justo quando você está no meio de uma troca de fraldas e te acerta bem no meio da barriga. E você olha pro lado, rindo feliz, querendo contar e mostrar, e ali não tem ninguém. Você percebe então que esse é o desafio, são só vocês dois, e ele é o seu presente.

No caso do cocô, a mulher-polvo aparece. Você não fazia nem idéia que ela existia, aliás, você não fazia idéia de muita coisa antes daquela coisinha linda entrar na sua vida. Uma mãe tem dez mãos, oito braços, seis pernas, voz de trovão, canta como os anjos e tem o maior coração do mundo, cabem tudo e todos ali dentro. Ela é especialista em pequenos dodóis, mordidas de mosquito no meio da noite, suquinho no canudo e potes com biscoito, incorpora com perfeição o Homem-Aranha e imita como ninguém o leão, arrancando risadas gostosas daquela boquinha cheia de dentes. Enfim, ela é altamente especializada...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Minhoca

No troninho, de manhã cedo, depois de fazer a inspeção:
"Mamãe, minhoca!"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A aventura de ser mãe

Já tinha ouvido falar muitas coisas sobre o assunto, boas e ruins, e a verdade é que eu não queria isso pra mim. Nada contra, sempre adorei criança, mas não me via presa a horários de dar de mamar, ser responsável por uma criaturinha, dar o exemplo. Eu posso comer qualquer coisa, mas criança precisa de uma dieta balanceada, o que eu ia preparar pra ela se meus dotes culinários são tão limitados? Além disso, precisava terminar a faculdade, ter um emprego estável, casa própria, um bom marido, carro na garagem, dinheiro suficiente para comprar roupas e pagar uma boa escola. Precisava esperar o momento certo. E sendo toda errada, simplesmente decidi não ser mãe. Besteira...

A tal natureza bateu à minha porta de repente e foi como se eu tivesse acordado de um dia para o outro pensando "Quero ter um filho".  Aos trancos e barrancos, depois de quase dois anos de tentativas frustradas, a notícia: estou grávida! E foi a melhor coisa que podia ter me acontecido. Ainda sendo toda errada.